Quando apontamos dois espelhos, um para o outro, um efeito de ‘infinitude’ se apresenta, bem visível e prático: O primeiro espelho reflete algo que o reflete, assim como o segundo, formando em suas faces uma espécie de túnel, que ‘prende’ todo aquela luz em si durante o alinhamento desses espelhos.
Esse tipo experiência, a de distorção ótica, pode ser facilmente consumida nesses parques de diversão que perambulam pelas cidades do interior – nas ‘Casas dos Espelhos’. É uma atração comum, e que sempre causa os mesmos resultados às cobaias: Um início hilariante (ainda que a gente não entenda o motivo), seguido de confusão mental e náuseas.
A internet é um amontoado de espelhos. A humanidade utiliza quantidades exorbitantes de energia (material e espiritual) para alinhar esses espelhos, de forma que as melhores ferramentas que criamos são papagaios, muito bem treinados. Com o advento dos modelos de linguagem e da tal ‘inteligência artificial’, esses espelhos digitais formaram um círculo em nossa volta. Toda a interação humana é pautada pelo hiper-texto, pela tela. Criamos robôs que processam arte e nos retornam algo parecido com arte. Robôs que atendem lojas, robôs que escrevem reportagens.
Seria até vulgar usar aquela velha máxima de que nós ‘não saímos mais da internet’. Afinal, esse é um ‘manifesto de fundação’ de um site, na boa e velha internet. Mas algo precisa ser diferente. Alguma parte desses enormes espelhos tem que ser pintada de verdade, para que os reflexos dos outros espelhos nos mostrem onde estamos. Esse site não é um pintor. É uma lata de spray.
Quem escreve essa espécie de editorial tenta, há anos (e em algumas oportunidades, ainda mais desesperadamente do que aqui), criar um novo meio de mídia para a cidade. Que fuja das fórmulas sensacionalistas, mas que não se esconda dentro de armários revolucionistas. Que não subestime as audiências, em gênero, número ou grau. Que seja crítico, realista. Que seja revolucionário, sonhador.
Sempre que possível, o conteúdo não será tão prolixo quanto aqui (o que é bom). Em alguns momentos, um pouco surreal (aí depende). Mas, indiscutivelmente, será conteúdo. Será tinta de verdade, ou reflexo dessas tintas. Tomara que você goste!