
Mais uma sessão tensa se desdobrou no Edifício Euclides da Cunha. De tranquilo, só os hinos. Logo no início da Sessão o vereador Gustavo Pozzi (PP) solicitou uma interrupção de cinco minutos, que foi recusada pela presidência com a justificativa de um acordo feito na Sessão anterior, que consistia na extinção desse tipo de interrupção. Cinco minutos antes, a ata dessa sessão havia sido aprovada ‘por aclamação’. Com a recusa, o vereador Paraná Filho ficou extremamente irritado, discutindo com o presidente Marquinho Amaral (Podemos), que se recusou “à entrar na vibe” do vereador. Com o descompasso, o vereador Lucão Fernandes (PP) propôs o óbvio: Já que o acordo não estava tão acordado assim, votou-se (novamente por aclamação) o fim do acordo.
Os recentes tumultos nas sessões fizeram com que dezenas de requerimentos das sessões anteriores se represassem e tivessem que ser votados nessa. Após os cinco minutos de interrupção, o governo destacou da votação um requerimento de autoria do vereador Professor Azuaite de França (Cidadania), que pedia informações sobre as emendas parlamentares dos anos de 2023 e 2024, que foi negado por ampla maioria. Azuaite então respondeu ao plenário, de maneira muito ácida (e, porque não, elegante), que não gostaria de estar no lugar dos vereadores que votaram contra e que, baseado na lei da Transparência, já tinha pedido a mesma informação à Prefeitura. Considerou derrotados o governo e a própria Câmara.
Ruminando assuntos como a agenda da primeira-dama federal e a Operação Lava-Jato, o vereador Paraná Filho fez uma tréplica raivosa ao grisalho vereador do Cidadania, sugerindo que alguém de “cabelos brancos e com idade para ser seu avô” deveria ter vergonha dos seus atuais aliados (de quem, de fato, já foi feroz inimigo). Numa tréplica rápida, deselegante, não-regimental e desautorizada, Azuaite disse que “se recusaria a ser avô” de Paraná Filho, já que, segundo Azuaite, o ‘Paraná pai’ era a “única pessoa do mundo que fez greve de fome e engordou”. Múltiplas questões de ordem se empilharam. Nenhuma trouxe ordem à Sessão.
Na tribuna livre, a direção da Unicep apresentou à casa o projeto do seu novo curso de Medicina. Aqui, a tensão saiu do púlpito e foi ao plenário. Logo após as falas, a presidência iniciou a leitura de um documento conjunto sobre o tema, o que foi completamente ignorado pelos vereadores, que se peitaram, faltando muito pouco para chegarem às vias de fato. Acalmados os ânimos, o vereador Dimitri Sean (PDT) propôs a supressão do expediente falado, que foi aceita por aclamação.
Sem essa fonte de tensão no horizonte, as minúcias como nomenclaturas de ruas e transferências no orçamento da Câmara foram rapidamente aprovadas, em grandes lotes. As únicas discordâncias foram na formação dos lotes, pela diferença entre os quóruns necessários.
O destaque aqui foi o pedido de licença do vereador Djalma Nery (PSOL), aniversariante do dia. O pedido foi aprovado por unanimidade. A suplente Sara Bononi (PSOL) assumirá a cadeira por 31 dias. Um raro momento de ‘fofura’ tomou a casa, com elogios do vereador Paraná Filho ao vereador Djalma, diametralmente opostos em suas ideologias.
A tensão, que ao editorial parece fruto do período pré-eleitoral, demonstra a fragilidade da presidência atual da Câmara. Nem o governo, nem a oposição se entendem com a mesa, que precisa se apoiar em um regimento antigo e defasado. Os tablets e o painel eletrônico são constantes fontes de dúvidas. Os acordos são feitos e logo desfeitos. O faroeste verbal é constante. Perde a Câmara. Perde São Carlos.